Sobre os seus saltos, sob a lua cheia,
Os travestis desfilam como garças,
Farsa carnal em meio às outras farsas
Que o mundo absurdo no aéreo chão semeia.
São deusas-mães usando liga e meia,
De ancas imensas, madeixas esparsas,
De enormes seios, piscando aos comparsas,
Buscando otários para a escusa teia.
São Vênus neolíticas chamando
Sombras confusas, entre os cães sem casa
E os negros ébrios. Seu barroco bando
Volveu, pulsante, dos tetos das grutas,
E anda na névoa, como numa vasa,
Rotundas popas balouçando enxutas.
LÁZARO
Cobrimos o mendigo que dormia
Com jornais, os jornais do extinto dia.
De fora só ficaram os sapatos
Cambaios, já roídos pelos ratos.
Acendemos então, junto, uma vela
E arengamos na luz branca e amarela.
Um círculo de povo já envolvia
Nosso pranto, e o pinguço nem tremia.
Volveu por fim do reino dos defuntos.
Debandada! E ele riu. Ríamos juntos.
I. M. L.
Na porta do boteco
Com flores de coroas
Que oferta às moças boas
Ele ergue o seu caneco
De alumínio gravado
Com o escudo do seu time,
E conta o último crime,
E olha o bordel fechado.
Sorrindo, no balcão,
Beberica e, prudente,
Fita a vaga onde, em frente,
Deixou o rabecão.
Então, se há um que lhe peça
Que lembre do seu carro,
Diz, dando um grosso escarro:
_ Defunto não tem pressa.
Alexei Bueno
Fantásticos poemas, Alexei!
ResponderExcluirAbraço
A melhor Poesia, parabéns Alexei.
ResponderExcluirMaria Zélia Baeta-BH
Literacia nos traz uma ótima panorâmica - ainda que pequena amostra - do mestre Alexei, sem dúvida um dos grandes poetas do Brasil.
ResponderExcluirParabéns!
Wagner, Maria Zélia , Walter, grato pela leitura e apreciação.
ResponderExcluirAbraços ,
Alexei Bueno-RJ