Poeta , Editor, ex-Diretor do INEPAC, Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, e membro do Conselho Estadual de Tombamento.

sábado, setembro 24


DOS POEMAS GREGOS, 1984 de Alexei Bueno




Série Primeira



                    ***


Dos homens, porque as têm,
As faces vão se embora,
Enquanto, na alvorada,
Os de hora breve pássaros
Por anos sem lembrança
São sempre o mesmo canto.

Pois ser um é ser morto,
E assim é que pagamos
O sermos, como os deuses,
Um só, um que não torna,
Porém não como eles
Às Parcas superiores.

Por isso o instante dói,
Como a mim, ao que enxerga
As folhas que não voltam,
E vê, na hora mais viva,
E não na madrugada,
A ágora deserta.





                              ***



Os deuses, como nós, não sabem nada
            E só serenos vivem
            Porque, infinitos sendo,
A vida é lhes bastante só saber.

Pois se assim também fôssemos, as trevas
            Do oculto murchariam
            Perante a luz doméstica
Do nosso então, que acesa seguiria.

Mortais, porém, entre dois grandes mares
            Sem astros nem farol,
            Frágil batel, boiamos
À espera de que a vaga nos destroce.

E tudo é frio e frágil. E a verdade
            Que neste espaço temos
            Fora dele não segue
Qual nosso archote, aonde possamos dar.

Por isso assim trememos, e se rimos
            Debaixo do ócio efêmero
            O medo em nós prossegue
E ele mesmo, com medo, se une a nós.

E abraçados choramos. E no Olimpo
              Até os divinos temem
              Então, como sentindo
Que a eles mesmos a Parca há de cortar.



                            ***



Tudo, menos tu, Cronos, morrer pode.
Mesmo os deuses à morte estão sujeitos.
Mesmo o Fado, que até a eles subjuga,
               Não se interpõe a ti.

Só tu reinas, e findos ainda um dia
Os deuses, e os mortais, e os mundos todos,
E o olímpico monte em pó tornado,
            Tu, eterno, seguirias.

Pois, mais que os nossos olhos que te vissem,
Num vácuo até de ti, sem quem a olhasse,
Tua gota a cair continuaria,
            Sem gota, ou queda, ou nada.

Um comentário:

  1. Ler Alexei Bueno é sempre um prazer renovado.
    Filipa Saanan

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